Regra 10 - Seja rigoroso no seu discurso

Regra 10 – Seja rigoroso no seu discurso


“A folha não podia ter nascido sem a árvore. E não pode continuar a existir na ausência da árvore.”

“Os nossos sistemas de perceção transformam o mundo de múltiplos níveis, interligado e complexo, que habitamos, não tanto em coisas per se, mas em coisas úteis (ou em coisas que atrapalham). Esta é a redução necessária e prática do mundo.”

“Quando olhamos para o mundo, percebemos apenas o que é suficiente para que os nossos planos e ações funcionem, e para que possamos sobreviver.”

“É por essa razão que devemos ser precisos com o nosso objetivo. Caso contrário, afundamo-nos na complexidade do mundo.”

“Quando as coisas desmoronam, o que foi ignorado aparece subitamente. Quando as coisas não são especificadas com precisão, as paredes desmoronam e o caos revela a sua presença. Quando somos descuidados e deixamos as coisas degradarem-se, aquilo a que não demos atenção surge mais com mais força, e ataca, adotando uma forma tortuosa – muitas vezes no pior momento possível. É então que vemos como somos protegidos por uma intenção focada, um objetivo estabelecido e uma atenção cuidadosa.”

“Essa é a moral de muitas e muitas histórias. O caos surge numa casa, pouco a pouco. A infelicidade e o ressentimento acumulam-se. Tudo o que está desorganizado é varrido para debaixo do tapete, onde o dragão se alimenta.”

“Nunca subestime o poder destrutivo dos pecados da omissão.”

“Porque permanecemos indecisos, ainda que isso torne a vida mais estagnada e obscura? Bem, se não sabemos quem somos, podemos esconder-nos na dúvida.”

“Acha realmente que é uma boa ideia abandonar a possibilidade de se preparar para a crescente vaga de problemas e, com isso, diminuir-se a si mesmo? Acha realmente sensato deixar a catástrofe crescer na sombra, enquanto fica cada vez com mais medo? Não é melhor preparar, afiar a espada, perscrutar a escuridão e depois atacar o leão no seu covil?”

“Porquê a recusa em especificar? Porque se não definirmos o sucesso (e, portanto, não o tornarmos impossível), também nos recusamos a definir o fracasso, e assim, quando falharmos, não o iremos perceber, tentaremos evitar a dor. Mas não vai funcionar! Não podemos ser enganados tão facilmente – a menos que tenhamos ido demasiado longe no caminho da ilusão! Em vez disso, carregaremos uma sensação contínua de desilusão no próprio Ser – bem como o desprezo e o ódio crescente pelo mundo que tudo isso gera (ou degenera).”

“Quando as coisas desmoronam e o caos reaparece, podemos estrutura-lo e restabelecer a ordem através do nosso discurso. Se falamos com cuidado e precisão, podemos resolver as coisas, colocá-las no seu devido lugar, estabelecer uma nova meta, e navegar até ela – muitas vezes comunitariamente, se negociarmos, se chegarmos a um consenso. No entanto, se falamos de maneira descuidada e imprecisa, as coisas permanecem vagas. O destino permanece não-declarado. O nevoeiro da incerteza não se dissipa e não há negociação possível através do mundo.”

“A psique (a alma) e o mundo são organizados, nos níveis mais elevados da existência humana, com a linguagem e através da comunicação.”

“Quando o erro aparece, o caos indiferenciado está próximo. Paralisa e confunde. Mas os dragões que existem (talvez mais do que qualquer outra coisa) também acumulam ouro.”

“Tenha cuidado com o que diz a si mesmo e aos outros relativamente ao que fez, ao que está a fazer e para onde está a dirigir-se. Procure as palavras certas. Organize essas palavras nas frases certas, e as frases nos parágrafos certos. O passado pode ser redimido até à sua essência, quando reduzido pela linguagem exata. O presente pode fluir sem saquear o futuro, caso as suas realidades sejam ditas com clareza.”

“Palavras corajosas e verdadeiras tornarão a sua realidade simples, intocada, bem definida e habitável.”

“Tem de definir conscientemente o tópico de uma conversa, particularmente quando é difícil – caso contrário, a conversa passa a ser sobre tudo, e tudo é demais.”

“Diga o que quer dizer, para que possa descobrir o que quer dizer. Aja de acordo com o que diz. Assim, pode descobrir o que irá fazer. Então, preste atenção. Anote os seus erros. Articule-os. Esforce-se para corrigi-los. É assim que descobre o significado da sua vida. Isso irá protege-lo da tragédia da sua vida. Como podia ser de outra forma?”

“Confronte o caos do Ser. Enfrente o mar de problemas. Especifique o seu destino e trace o seu curso. Admita o que quer. Diga àqueles em seu redor quem é. Olhe atentamente e siga adiante.”


Maio, 2020

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Regra 11 – Não incomode as crianças quando estão a andar de skate

Regra 11 – Não incomode as crianças quando estão a andar de skate


“Há quem ache que isso é estúpido. Talvez. Mas também é corajoso.”

“Claro que aquilo era perigoso. Perigo era o cerne da questão. Eles queriam triunfar sobre o perigo.”

“Não era a segurança o que procuravam. Estavam a tentar tornar-se competentes – e é a competência que torna as pessoas seguras quando realmente precisam de o ser.”

“Estamos programados para correr riscos (alguns mais do que outros). Sentimo-nos revigorados e entusiasmados quando trabalhamos para melhorar o nosso desempenho futuro, enquanto jogamos no presente. Caso contrário, andaríamos perdidos por aí, preguiçosos, inconscientes e descuidados. Superprotegidos, falharemos quando algo perigoso, inesperado e cheio de oportunidades surgir de súbito, como será inevitável que aconteça.”

“Creio que foi Jung quem desenvolveu o ditado psicanalítico mais certeiro: Se não consegue entender porque alguém fez alguma coisa, observe as consequências – e deduza a motivação.”

“Só recentemente desenvolvemos ferramentas e tecnologias concetuais que nos permitem entender a teia da vida, embora de forma imperfeita. Como consequência, merecemos um pouco de empatia relativamente à indignação com o nosso comportamento destrutivo. Por vezes, não sabemos fazer melhor as coisas. Por vezes, sabemos, mas ainda não formulámos alternativas práticas. Afinal, a vida não tem sido fácil para os humanos, e continua a não ser – há apenas algumas décadas, a maioria dos seres humanos estava faminta, doente e era analfabeta.”

“Fazemos o que podemos para conseguir o melhor das coisas, apesar da nossa vulnerabilidade e fragilidade, e o planeta é mais duro connosco do que somos com ele. Bem que podíamos ser mais tolerantes connosco.”

“Em sociedades que funcionam bem – isso se não as compararmos com uma utopia hipotética, mas em contraste com outras culturas existentes ou históricas -, a competência, e não o poder, é um dos principais determinantes do estatuto. Competência. Capacidade. Habilidade.”

“Seria ótimo se o oposto de um criminoso fosse um santo – mas não é o caso. O oposto de um criminoso é uma mãe edipiana, que, por sua vez, também é um tipo de crime.”

“Muita proteção destrói a alma em desenvolvimento.”

“Por isso é que o Nelson Muntz, da série Os Simpsons, é tão necessário no pequeno grupo social que rodeia Bart, o filho do anti-herói Homer. Sem Nelson, Rei dos Arruaceiros, a escola seria invadida por miúdos como o Milhouse, ressentidos e melindrosos, ou como o Martin Prince, narcisistas, intelectuais, cobertos de chocolate, ou como o infantil Ralph Wiggums.”

“Como os miúdos do skate, os alpinistas e os corredores, faziam coisas perigosas, tentando tornar-se úteis. Quando esse processo vai longe demais, os rapazes (e os homens) descarrilam para um comportamento antissocial, o que é muito mais comum nos homens do que nas mulheres. Isso não significa que todas as manifestações de ousadia e coragem sejam criminosas.”

“Quando os rapazes estavam a fazer peões no gelo, também estavam a testar os limites dos carros, da sua capacidade como pilotos e das suas competências para manter o controlo numa situação fora do controlo. Quando respondiam mal aos professores, estavam a afirmar-se contra a autoridade, testando-a, a fim de ver se havia ali alguma autoridade real – o tipo de autoridade em quem se poderia confiar numa crise.”


Maio, 2020

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Regra 12 – Se vir um gato na rua, faça-lhe uma festa

Regra 12 – Se vir um gato na rua, faça-lhe uma festa


 “Dostoiévski expressa as suas dúvidas sobre a propriedade do Ser através do caráter de Ivan que, como deve lembrar-se, é o irmão eloquente, bonito e sofisticado (e o maior adversário) do monástico Alyosha. “Não é Deus que eu não aceito. Entende isso”, diz Ivan. “O que não aceito é o mundo que Ele criou, este mundo de Deus, e não posso concordar com isso.””

“… “Alyosha: se fosse prometido, de alguma forma, que o mundo pudesse finalmente ter paz, completa e total – mas somente sob a condição de que torturasses uma criança até à morte – digamos, por exemplo, aquela menina que está a congelar na casota… Farias isso?” Alyosha diz, baixinho: “Não, não o faria.” Alyosha não faria o que Deus parece permitir livremente.”

Imagine um Ser que é omnisciente, omnipresente e omnipotente. O que falta a tal Ser? A resposta? Limitação.

“Se já é tudo, em todos os lugares, sempre, não há para onde ir e nada para ser. Tudo o que podia ser já é, e tudo o que podia acontecer já aconteceu.”

“Sem limitação, não há história. Sem história, não há Ser.”

 “E isso tornou-se o problema do Super-Homem: desenvolveu poderes tão extremos que podia fazer qualquer coisa, a qualquer momento. Como consequência, a marca do Super-Homem quase morreu na década de 1980. O artista e escritor John Burne recuperou a personagem com sucesso, reescrevendo as histórias do Super-Homem, mantendo a sua biografia, mas privando-o de muitos dos seus novos poderes.”

Um Ser razoável parece exigir limitações. Talvez seja porque o Ser requer tornar-se algo, em vez da mera existência estática – e tornar-se é tornar-se algo melhor, ou, pelo menos, algo diferente. Isso só é possível para aquilo que é limitado.”

“Mas, e o sofrimento causado por tais limites?”

“Mas existe alguma alternativa coerente, dado os horrores evidentes da existência?”

“Algo supera o pensamento, apesar do seu poder verdadeiramente impressionante. Quando a existência se revela intolerável, o pensamento colapsa. Em tais situações – nas profundezas – o que funciona é consertar, e não tanto pensar. Talvez possa começar dando-se conta disto: quando ama alguém, não é apesar das limitações dessa pessoa. É por causa dessas limitações.

“Quando o Sol brilha, os tempos são bons e as colheitas abundantes, pode fazer os seus planos para o mês seguinte, o ano seguinte, os cinco anos seguintes. Pode até sonhar com uma década mais adiante. Mas não pode fazer isso quando tem uma perna presa nas mandíbulas de um crocodilo.”

“Deseje o Céu, e depois aja de maneira apropriada, de acordo com esse objetivo. Uma vez que esteja alinhado com o Ceu, pode concentrar-se no dia. Seja cuidadoso. Ponha em ordem as coisas que pode controlar. Repare no que está desordenado e melhore o que já é bom. É possível, se for cuidadoso. As pessoas são muito duras. As pessoas podem sobreviver a muita dor e perda. Mas, para perseverar, devem ver o bem no Ser. Se perdem isso, estão verdadeiramente perdidas.”

"Do outro lado da rua onde moro, há uma gata chamada Ginger... Por vezes, quando a chamamos - outras por sua livre vontade -, a Ginger trota pela rua, com a cauda erguida, mas a ponta retorcida... Depois, se tiver vontade, pode aproximar-se de nós. É uma boa pausa no dia. É um pouco de luz extra num dia bom. E uma pequena folga, num dia mau."

“Se prestar muita atenção, mesmo num dia mau, pode ter a sorte de ser confrontado com pequenas oportunidades deste tipo.”

“Quando estiver prestes a ir dar um passeio a pé, e vir um gato, preste atenção, porque durante pelo menos 15 segundos irá lembrar-se que a maravilha do Ser pode compensar o sofrimento inamovível que o acompanha.”


Maio, 2020

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CODA

CODA


“Eis a primeira: O que devo fazer amanhã? E a resposta: O melhor possível, no menor período de tempo.”

“A segunda pergunta foi na mesma linha: O que devo fazer no próximo ano? Tenta garantir que o bem que fazes só será superado pelo bem que fizeres no ano seguinte.”

“A pergunta seguinte concluiu o primeiro conjunto: O que devo fazer da minha vida? Aponta para o Paraíso e concentra-te no hoje.”

“O que devo fazer com o mundo? Age como se o Ser fosse mais valioso do que o Não-Ser. Age de modo a que não fiques amargo e sejas corrompido pela tragédia da existência. Isso é a essência da Regra 1 (Levante a cabeça e endireite as costas): confronte a incerteza do mundo voluntariamente, com fé e coragem.”

Como devo lidar com o iluminado? Substitua-o por aquele que verdadeiramente busca o esclarecimento. Não existe um iluminado. Existe apenas aquele que busca mais esclarecimento. O verdadeiro Ser é um processo, não um estado; uma viagem, não um destino.”

O que devo fazer quando desprezo o que tenho? Lembra-te daqueles que nada têm e se esforçam para serem gratos.

O que devo fazer quando a ganância me consome? Lembra-te de que realmente é melhor dar do que receber. O mundo é um fórum de partilha e troca (Regra 7, mais uma vez), não é um tesouro para ser pilhado. Dar é fazer o que podemos para melhorar as coisas. O bem nas pessoas responderá a isso, irá apoiá-lo, imitá-lo, multiplica-lo, devolvê-lo e promovê-lo de modo a que tudo se fortaleça e melhore.”

O que devo fazer quando estou cansado e impaciente? Aceita com gratidão uma mão amiga.”

O que devo fazer com o facto de envelhecer? Substitui o potencial da juventude com as conquistas da maturidade.”

Uma vida vivida justifica as suas próprias limitações.

“Eis uma ambição digna e nobre: força na face da adversidade. Isso é muito diferente de desejar uma vida livre de problemas.”

O que devo fazer no próximo momento difícil? Concentra a atenção no próximo passo correto.”

“O conhecimento da fragilidade e da finitude produzido pela morte pode aterrorizar, amargurar e separar. Também pode despertar. Pode levar os que sofrem a perceber que não devem ter como garantidos aqueles que amam.”


Maio, 2020

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