Regra 12 – Se vir um gato na rua, faça-lhe uma festa


 “Dostoiévski expressa as suas dúvidas sobre a propriedade do Ser através do caráter de Ivan que, como deve lembrar-se, é o irmão eloquente, bonito e sofisticado (e o maior adversário) do monástico Alyosha. “Não é Deus que eu não aceito. Entende isso”, diz Ivan. “O que não aceito é o mundo que Ele criou, este mundo de Deus, e não posso concordar com isso.””

“… “Alyosha: se fosse prometido, de alguma forma, que o mundo pudesse finalmente ter paz, completa e total – mas somente sob a condição de que torturasses uma criança até à morte – digamos, por exemplo, aquela menina que está a congelar na casota… Farias isso?” Alyosha diz, baixinho: “Não, não o faria.” Alyosha não faria o que Deus parece permitir livremente.”

Imagine um Ser que é omnisciente, omnipresente e omnipotente. O que falta a tal Ser? A resposta? Limitação.

“Se já é tudo, em todos os lugares, sempre, não há para onde ir e nada para ser. Tudo o que podia ser já é, e tudo o que podia acontecer já aconteceu.”

“Sem limitação, não há história. Sem história, não há Ser.”

 “E isso tornou-se o problema do Super-Homem: desenvolveu poderes tão extremos que podia fazer qualquer coisa, a qualquer momento. Como consequência, a marca do Super-Homem quase morreu na década de 1980. O artista e escritor John Burne recuperou a personagem com sucesso, reescrevendo as histórias do Super-Homem, mantendo a sua biografia, mas privando-o de muitos dos seus novos poderes.”

Um Ser razoável parece exigir limitações. Talvez seja porque o Ser requer tornar-se algo, em vez da mera existência estática – e tornar-se é tornar-se algo melhor, ou, pelo menos, algo diferente. Isso só é possível para aquilo que é limitado.”

“Mas, e o sofrimento causado por tais limites?”

“Mas existe alguma alternativa coerente, dado os horrores evidentes da existência?”

“Algo supera o pensamento, apesar do seu poder verdadeiramente impressionante. Quando a existência se revela intolerável, o pensamento colapsa. Em tais situações – nas profundezas – o que funciona é consertar, e não tanto pensar. Talvez possa começar dando-se conta disto: quando ama alguém, não é apesar das limitações dessa pessoa. É por causa dessas limitações.

“Quando o Sol brilha, os tempos são bons e as colheitas abundantes, pode fazer os seus planos para o mês seguinte, o ano seguinte, os cinco anos seguintes. Pode até sonhar com uma década mais adiante. Mas não pode fazer isso quando tem uma perna presa nas mandíbulas de um crocodilo.”

“Deseje o Céu, e depois aja de maneira apropriada, de acordo com esse objetivo. Uma vez que esteja alinhado com o Ceu, pode concentrar-se no dia. Seja cuidadoso. Ponha em ordem as coisas que pode controlar. Repare no que está desordenado e melhore o que já é bom. É possível, se for cuidadoso. As pessoas são muito duras. As pessoas podem sobreviver a muita dor e perda. Mas, para perseverar, devem ver o bem no Ser. Se perdem isso, estão verdadeiramente perdidas.”

"Do outro lado da rua onde moro, há uma gata chamada Ginger... Por vezes, quando a chamamos - outras por sua livre vontade -, a Ginger trota pela rua, com a cauda erguida, mas a ponta retorcida... Depois, se tiver vontade, pode aproximar-se de nós. É uma boa pausa no dia. É um pouco de luz extra num dia bom. E uma pequena folga, num dia mau."

“Se prestar muita atenção, mesmo num dia mau, pode ter a sorte de ser confrontado com pequenas oportunidades deste tipo.”

“Quando estiver prestes a ir dar um passeio a pé, e vir um gato, preste atenção, porque durante pelo menos 15 segundos irá lembrar-se que a maravilha do Ser pode compensar o sofrimento inamovível que o acompanha.”


Maio, 2020

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