Regra 8 – Diga a verdade – ou, pelo menos, não minta

 

 “Dividi-me em duas partes: uma que falava e uma, a mais destacada, que prestava atenção e que julgava. Percebi que quase tudo o que dizia era falso. Tinha motivos para dizer essas coisas: queria ganhar discussões e estatuto, impressionar as pessoas e conseguir o que queria. Estava a usar a linguagem para manipular o mundo, tentando que o mundo me desse o que eu achava necessário. Mas eu era uma farsa. Ao dar-me conta disso, comecei a tentar dizer apenas coisas às quais a voz interior não se oporia. Comecei a dizer a verdade – ou, pelo menos, não mentia. Aprendi que tal competência era muito útil quando não sabia o que fazer. O que devemos fazer quando não sabemos o que fazer? Dizer a verdade.”

 “Libertei-me por completo das motivações de domínio, típicas dos primatas, e da superioridade moral. Disse-lhe, tão direta e cuidadosamente como consegui, que não. Não estava a brincar. Naquele momento, não era um jovem educado, anglófono e afortunado. E ele não era um motociclista do Quebeque, ex-presidiário, com um excecional nível de álcool no sangue. Não, eramos dois homens, com boa vontade, que tentavam ajudar-se um ao outro, participando nessa incumbência de tentar fazer a coisa certa.”

“Procurava – isso eu sabia – qualquer microexpressão que revelasse sarcasmo, engano, desprezo ou satisfação. Mas eu pensara muito nisso, e só disse o que realmente queria dizer. Escolhi as minhas palavras com cuidado, atravessando um pântano traiçoeiro, procurando pisar o caminho de pedras parcialmente submerso.”

“Escolher o caminho mais fácil ou dizer a verdade – essas não são apenas duas escolhas diferentes; são caminhos distintos ao longo da vida. São maneiras completamente opostas de existir.”

 “Pode usar as palavras para manipular o mundo de forma a que receba aquilo que quer. Isso é o que significa “agir politicamente”.”

“Viver dessa maneira é como ser possuído por algum desejo inquinado, é elaborar o discurso e a ação de uma maneira que parece provável e racional, mas que só pretende atingir os objetivos individuais, que podem incluir “impor as minhas crenças ideológicas”, provar que estou (ou estava) certo”, “parecer competente”, “subir na hierarquia”, “evitar responsabilidade” (ou “aproveitar-me do crédito das ações dos outros”), “para ser promovido”, “para atrair a maior parte da atenção”, “para garantir que todos gostem de mim”, “para obter os benefícios do martírio”, “para justificar o meu cinismo”, “para racionalizar z minha perspetiva antissocial”, “para minimizar o conflito imediato”, “para mantes a minha ingenuidade”, “para capitalizar a minha vulnerabilidade”, “para aparecer sempre como o santo”, ou (esta é particularmente má) “para garantir que é sempre culpa da criança não amada”. Esses são todos exemplos que o compatriota de Sigmund Freud, o psicólogo austríaco Alfred Adler, apelidou de “mentiras da vida”.

“Caso se traia a si próprio, caso diga coisas falsas e minta, irá enfraquecer o seu caráter. Se tem um caráter fraco, então a adversidade irá inevitavelmente derrubá-lo. Vai tentar esconder-se dela, mas não haverá onde se esconder.”

“Apenas a filosofia mais cínica e desesperada insiste que a realidade podia ser melhorada através da falsidade. Tal filosofia julga o Ser e o seu melhoramento, considerando ambos defeituosos. Denuncia a verdade como insuficiente e o homem honesto como iludido. É uma filosofia que tanto sustenta a corrupção endémica do mundo como a justifica.”

“Com amor, encorajamento e o caráter intacto, um ser humano pode ser resiliente muito além do que imaginamos. O que não pode ser suportado, no entanto, é a ruína absoluta produzida pela tragédia e pelo engano.”

“É aí que vivem aqueles que mentem muito através de palavras e atos – no Inferno, agora. Dê um passeio pelas ruas movimentadas de qualquer cidade. Mantenha os olhos abertos e preste atenção. Irá encontrar pessoas que estão lá neste momento. São pessoas a quem, instintivamente, dá espaço. São as pessoas que ficam irritadas se as olhar diretamente nos olhos, embora às vezes desviem a cara, com vergonha.”

 “Um objetivo – uma ambição – fornece a estrutura necessária para a ação. Um objetivo oferece um destino, um ponto de contraste relativamente ao presente, e uma bitola pela qual todas as coisas podem ser avaliadas.”

“Ter a tradição como referência pode ajudar-nos a estabelecer os objetivos. É razoável fazer o que as outras pessoas sempre fizeram, a menos que tenhamos uma boa razão para o contrário. É razoável que sejamos educados, que trabalhemos, que encontremos amor e que tenhamos uma família. É assim que a cultura se mantém. Mas é necessário apontar ao alvo, por mais tradicional que seja, com os olhos bem abertos. Temos uma direção, mas podemos estar errados. Temos um plano, mas pode estar mal formulado.”

“Mas o presente não é o passado. A sabedoria do passado deteriora-se, ou torna-se antiquada, e é proporcional à diferença genuína entre as condições do presente e do passado.”

“E porque não mentir? Porque não manipular as coisas, com o fim de obter um pequeno ganho, ou suaviza-las, ou manter a paz, ou evitar sentimentos de mágoa?”

“O motivo é simples. As coisas desmoronam. O que funcionou ontem não funcionará necessariamente hoje.”

“Quando as mentiras crescem o suficiente, o mundo inteiro estraga-se. Mas, se olhar bem de perto, a maior das mentiras é composta por mentiras menores, e essas são compostas por mentiras ainda mais pequenas – e a menor das mentiras é onde a grande mentira começa.”

“Dizer a verdade é criar a realidade mais habitável ao Ser. A verdade constrói edifícios que podem durar mil anos. A verdade alimenta e veste os pobres e torna nações ricas e seguras. A verdade reduz a terrível complexidade do homem à simplicidade da sua palavra, para que ele se possa tornar um aliado, em vez de um inimigo. A verdade torna o passado verdadeiramente passado, e faz o melhor uso das possibilidades do futuro. A verdade é o recurso natural supremo e inesgotável. É a luz na escuridão.”

“A verdade não são as opiniões partilhadas pelos outros, porque a verdade não é um conjunto de slogans nem uma ideologia. Em vez disso, é algo pessoal. A nossa verdade é algo que somente nós podemos dizer, algo baseado nas circunstâncias únicas da nossa vida. Apreenda a sua verdade pessoal. Comunique-a com cuidado, de maneira articulada, a si mesmo e aos outros. Assim, vai sentir-se mas seguro e que a vida é agora mais abundante, ao mesmo tempo que habita a estrutura das crenças atuais. Isso garantirá um futuro mais benevolente, por mais divergente que esse futuro seja das certezas do passado.”


Maio, 2020

ESTE SITE FOI CRIADO USANDO