Regra 4 – Compare-se com aquilo que era ontem e não com o que os outros são hoje


 “Cada um em seu campo, estes heróis locais tinham a oportunidade de desfrutar da confiança do vencedor alimentada pela serotonina. Pode ser essa a razão para que as pessoas que nasceram em lugares pequenos estão sobre representadas estatisticamente entre os mais bem-sucedidos. Se somos um num milhão, mas estamos na Nova Iorque atual, há pelo menos 20 iguais a nós – e a maioria das pessoas, agora, vive em grandes cidades. Mais: estamos digitalmente conectados aos sete mil milhões de habitantes do planeta. A nossa hierarquia das façanhas alcançadas é agora vertiginosamente vertical.”

“Não importa se somos muito bons nalguma coisa ou como avaliamos as nossas conquistas, há alguém que nos faz parecer incompetentes.”

 “Dentro de nós existe uma voz crítica que sabe tudo isto. E que está predisposta a fazer-se ouvir sonoramente. Uma voz que condena os nossos esforços medíocres. E com a qual pode ser muito doloroso discutir. Pior: críticos deste género são necessários. Não há falta de maus artistas, músicos desafinados, cozinheiros medíocres, gerentes burocráticos, romancistas fracos e professores aborrecidos.”

“O falhanço é o preço que pagamos para termos padrões de qualidade e, porque a mediocridade tem consequências reais e duras, os padrões são necessários.”

“Os padrões do que é bom ou mau não são ilusórios nem desnecessários. Se não achasse que aquilo que faz agora é melhor do que as alternativas, não o estaria a fazer.”

 “Para começar, não existe apenas um jogo no qual teremos sucesso ou iremos falhar. Há muitos jogos e, mais especificamente, muitos jogos bons – jogos que estão em sintonia com os nossos talentos, que nos tornam produtivos juntamente com outros, e que se sustentam, e até melhoram, ao longo do tempo.”

“Também é improvável que esteja a jogar apenas um jogo. Tem uma carreira, amigos, uma família, projetos pessoais, desafios artísticos e objetivos desportivos. Pode considerar o seu sucesso em todos os jogos.”

“Mas ganhar em tudo pode significar apenas que não está a fazer nada novo, ou difícil. Pode ganhar mas não está a crescer, e crescer pode ser a forma mais importante de ganhar. Deve uma vitória, no presentem ter sempre prioridade sobre a trajetória ao longo do tempo?”

“Por fim, pode vir a perceber que os pormenores dos seus jogos são tão únicos, para si, tão individuais, que compará-los com os outros é simplesmente inapropriado. Talvez esteja a sobrevalorizar aquilo que não tem e a subvalorizar o que tem. A gratidão é muito útil. Também é uma boa proteção contra os perigos da vitimização e do ressentimento.”

 “Quando a voz crítica nos rebaixa usando tais comparações, é assim que funciona: primeiro, escolhe um campo único e arbitrário de comparação (fama, talvez poder). Depois, age como se fosse o único campo relevante. Em seguida, estabelece um contraste desfavorável com alguém realmente genial nesse campo.”

“Quando somos muito jovens, não estamos informados. Não tivemos tempo nem ganhámos a sabedoria suficiente para desenvolver os nossos padrões. Como consequência, temos de comparar-nos aos outros, porque os padrões são necessários. Sem eles, não há onde ir, ou o que fazer. À medida que amadurecemos, tornamo-nos mais informados e singulares. As condições da nossa vida são cada vez mais pessoais, e menos fruto da comparação com os outros. Falando de forma simbólica, isto significa que temos de abandonar a casa dominada pelo pai e confrontar o caos do nosso próprio indivíduo.”

 “Os nossos olhos estão sempre a apontar para coisas das quais queremos aproximar-nos, coisas que procuramos ou queremos investigar ou possuir. Temos de ver, mas para ver, temos de fazer pontaria, de forma que estamos sempre a fazer pontaria a algo. As nossas mentes foram construídas na plataforma que são os nossos corpos de caçadores-recolectores. Caçar é especificar um alvo, segui-lo e disparar contra ele. Recolher é especificar algo e agarrá-lo.”

“Estamos, continua e simultaneamente no ponto A (que é menos desejável do que devia), em movimento para o ponto B (que achamos ser melhor, de acordo com os nossos valores explícitos e implícitos). Encontramos sempre o mundo num estado de insuficiência e procuramos a sua correção. Podemos imaginar novas formas de consertar e melhorar o que está errado, mesmo que tenhamos tudo o que julgamos desejar. Mesmo quando temporariamente satisfeitos, permanecemos curiosos. Vivemos com um quadro mental que define o agora como eternamente parco, e o futuro como eternamente melhor. Se não víssemos as coisas desta maneira, não podíamos agir. Nem sequer podíamos ver, porque para ver temos de focar, e para focar temos de escolher uma em vez das outras.”

“Eis uma dica. O futuro é como o passado. Contudo, há uma diferença crucial. O passado está estabelecido, mas o futuro pode ser melhor. E esse “melhor” pode ser medido – por exemplo, a quantidade conseguida, todos os dias, com um envolvimento mínimo. O presente é continuamente imperfeito. Mas o lugar de onde começamos pode não ser tão importante como a direção que escolhemos para avançar. Talvez a felicidade só se encontre na subida, e não na sensação fugaz de satisfação que nos espera no cume. Muita da felicidade é esperança, independentemente da profundidade do submundo em que a esperança é concebida.”

“Primeiro as coisas pequenas. Não vai querer carregar demasiado peso no início, tendo em conta os seus limitados talentos, a tendência para o engano, o fardo do ressentimento e a tendência para diminuir a responsabilidade. Dessa maneira, estabelece o seguinte objetivo: no final do dia, quero que as coisas na minha vida sejam um pouco melhores do que eram esta manhã. Depois, pergunta a si mesmo: “O que posso fazer, e que farei mesmo, para que isso aconteça, e que pequena coisa gostaria como recompensa?”. Depois, faça o que decidiu fazer, mesmo que o desempenho seja mau. Depois vá beber o tal café, triunfante. Talvez se sinta um pouco estupido ao fazê-lo, mas faça-o na mesma. E repita-o amanhã, e no dia seguinte, e no seguinte. E, a cada dia, a sua base de comparação fica um pouco mais alta, e isso é mágico. Isso são juros acumulados. Faça-o durante três anos, e a sua vida será inteiramente distinta. E agora almeja a algo mais elevado. As estrelas. Agora está a abrir os olhos, e aprende a ver. E aquilo que aspiramos determina o que vemos. Isto vale a pena repetir: E aquilo que aspiramos determina o que vemos.”

“A dependência da visão, relativamente àquilo que desejamos (e, como tal, relativamente ao valor – porque desejamos aquilo que valorizamos), foi demonstrada de uma forma inesquecível pelo psicólogo cognitivo Daniel Simons há mais de quinze anos. Simons estudava algo chamado “cegueira e desatenção continuadas”

“Como consequência, fazemos uma triagem quando vemos. Grande parte da nossa visão é periférica, e de baixa resolução. Reservamos a fóvea para coisas importantes. Usamos as nossas capacidades de alta resolução com poucas coisas específicas. E deixamos que o resto – que é quase tudo – desapareça sem ser notado, lá atrás.”

“É assim que lidamos com a avassaladora complexidade do mundo: ignoramo-la, enquanto nos concentramos minuciosamente nas nossas preocupações pessoais.”

“Se a sua vida não corre bem, talvez o seu conhecimento atual seja insuficiente, e não a vida em si. Talvez a sua estrutura de valores precise de ser reformulada. Talvez aquilo que ambiciona o esteja a cegar a tudo aquilo que podia ser. Talvez, no presente, esteja tão agarrado aos seus desejos que não consegue ver mais nada – mesmo aquilo que precisa.”

“Se começarmos a focar algo diferente – algo como “quero que a minha vida seja melhor” – as nossas mentes irão começar a apresentar-nos novas informações resultantes do mundo previamente escondido, de forma a ajudar-nos nessa missão. Depois, podemos usar essas informações e agir, observar e melhorar. E, depois de o fazer, depois de melhorar, talvez possamos perseguir algo diferente, ou mais elevado – algo como “quero uma coisa melhor do que ter uma vida melhor”. E, então, entramos numa realidade mais elevada e completa.”

 “É preciso uma observação cuidadosa, e educação, e reflexão, e comunicar com os outros, para ir além da superfície das nossas crenças. Tudo o que valorizamos é produto de processos de desenvolvimento inimaginavelmente longos, pessoais, culturais e biológicos. Não sabemos que aquilo que queremos – e, como tal, o que vemos – está condicionado pelo passado imenso, abismal e profundo. Não compreendemos como é que os circuitos neurológicos com que espreitamos o mundo foram moldados (e dolorosamente) pelos objetivos éticos, com milhões de anos, dos antepassados dos humanos e de toda a vida nos milhares de milhões de anos antes disso.”

 “Imagine que repara, contempla e reconsidera a sua felicidade. Mais: está determinado a aceitar a responsabilidade por isso, e arrisca-se a supor que pode ser algo, pelo menos em parte, sob o seu controlo. Abre um olho, por um momento, e olha. Pede algo melhor. Sacrifica a sua mesquinhez, arrepende-se da inveja e abre o coração. Em vez de amaldiçoar a escuridão, deixa entrar um pouco de luz. Decide focar-se numa vida melhor – em vez de um cargo melhor.”

“Mas não se fica por aí. Percebe que é um erro focar-se numa vida melhor se isso implica que a vida de outra pessoa piore. Por isso, decide ser criativo. Decide-se por um jogo mais difícil. Decide que quer uma vida melhor, que também torne melhor a vida da sua família. Ou da sua família e amigos. Ou da sua família, de amigos e dos estranhos que o rodeiam. E que tal os seus inimigos? Por certo não sabe como lidar com isso. Mas já leu uns livros de História. Sabe o que implica a inimizade. Como tal, começa a desejar o bem até para os seus inimigos, pelo menos em princípio, embora não seja ainda, de forma alguma, um mestre desses sentimentos.”

“E a direção da sua visão muda. Vê além das limitações que o prendiam sem que soubesse. Emergem novas possibilidades para a sua vida, e trabalha para que se tornem reais. De facto, a sua vida melhora.”

“Quer dizer: melhor hoje, de maneira a que tudo também possa ser melhor amanhã, e na próxima semana, e no ano seguinte e dentro de uma década e de um século. E daqui a mil anos. E para sempre”

 “Preste atenção. Concentre-se naquilo que o rodeia, física e psicologicamente. Repare em algo que o incomoda, que o preocupa, que não o deixa ser o que quer, algo que podia consertar, que consertaria, se pudesse. Pode encontrar essas coisas (como se verdadeiramente quisesse saber) fazendo três perguntas: “O que me está a incomodar?”, “É algo que eu podia consertar?” e “Estarei realmente disposto a consertá-lo?”. Se descobrir que a resposta é “não” a todas essas questões, então, procure noutro lugar. Faça pontaria mais abaixo. Procure até encontrar algo que o incomode, que possa e que queira consertar. Isso pode ser suficiente por um dia.”

“A compreensão nasce, em vez da tirania. E, assim, prestamos atenção. Estamos a dizer a verdade, em vez de manipular o mundo. Estamos a negociar, em vez de fazer o papel do mártir ou do tirano. Já não temos de ser invejosos, porque já não sabemos se alguém tem verdadeiramente uma vida melhor. Já não temos de ficar frustrados, porque aprendemos a apontar mais para baixo, a ser pacientes. Estamos a descobrir quem somos, e o que queremos, e aquilo que estamos dispostos a fazer. Descobrimos que as soluções para os nossos problemas particulares têm de ser feitas à medida, pessoais e precisas. Estamos menos preocupados com as ações dos outros, porque temos bastante que fazer.”

“Lide com o dia de hoje, mas aponte ao Bem Maior.”

“Viajar com felicidade até pode ser melhor do que chegar com sucesso ao destino.”


Maio, 2020

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