Regra 2 – Cuide de si como cuida daqueles que dependem de si
“Imagine que um medicamento é receitado a 100 pessoas. Considere o que acontece a seguir. Um terço dessas pessoas não avia a receita. Metade dos restantes 67 vão à farmácia, mas não tomarão o medicamento da forma indicada. Não tomam todas as doses. Deixam de tomar os comprimidos antes do tempo. Pode ser que nem abram a caixa.”
“As pessoas são mais eficazes a aviar as receitas e a administrar os medicamentos aos seus animais de estimação do que a si mesmas.”
“ De certa forma, o mundo científico da matéria pode ser reduzido aos seus elementos fundamentais: moléculas, átomos, até partículas subatómicas. No entanto, o mundo da experiência também tem componentes primários. Esses são os elementos necessários e cujas interações definem o drama e a ficção. Um deles é o caos. O outro a ordem. O terceiro (porque há três) é mediado entre o caos e a ordem, e parece idêntico àquilo que as pessoas modernas chamam consciência. É a nossa eterna subjugação aos dois primeiros que nos faz duvidar da validade da existência - que nos faz vomitar de desespero, e que falhemos na tarefa de cuidar de nós de forma apropriada. É um conhecimento apropriado do terceiro elemento que nos permite a única saída real.”
“Ordem é o Shire dos hobbits, nos livros de Tolkien: pacífico, produtivo e seguro, até mesmo para os ingénuos. O caos é o reino subterrâneo dos dwarves, usurpado por Smaug, a serpente do tesouro. O caos é o fundo do profundo oceano, para o qual o Pinóquio viaja a fim de resgatar o seu pai do Monstro. Essa viagem de resgate, para as trevas, é a coisa mais difícil que um boneco tem de fazer, caso queira transformar-se num menino real, afastar-se das tentações da mentira, da dissimulação, da vitimização, dos prazeres impulsivos e da subjugação totalitária; caso queira assumir o seu papel como Ser genuíno no mundo.”
“A ordem não é suficiente. Não podemos apenas estar seguros ou ser estáveis e imutáveis, porque ainda há coisas vitais e importantes a aprender. No entanto, o caos pode ser demasiado. Não é apenas possível tolerarmos uma constante de coisas que nos assombram e afogam, que ultrapassam a nossa capacidade para lidar com elas, enquanto aprendemos aquilo que temos de conhecer. Assim, precisamos de colocar um pé no que dominamos e percebemos melhor, e outro pé naquilo que queremos explorar e dominar. Então, estaremos situados no lugar em que o terror da existência está sob controlo e nos sentimos seguros, mas onde também nos encontramos alerta e envolvidos. É aí que está algo novo para aprender e uma maneira de podermos melhorar. É aí que se encontra sentido.”
“Até o mais vigilante dos pais não consegue proteger os seus filhos a toda a hora, mesmo que os tranque na cave, afastados das drogas, do álcool e da pornografia na internet. Nesse caso extremo, os pais demasiado cautelosos e preocupados acabam por substituir os outros terríveis problemas da vida. Esse é o grande pesadelo edipiano de Freud. É deveras melhor tornar competentes os Seres ao nosso cuidado do que protege-los.”
“E mesmo que fosse possível eliminar permanentemente tudo o que nos pode ameaçar – tudo o que é perigoso e, como tal, desafiante e interessante, isso significaria que outro perigo iria aparecer: o permanente infantilismo humano, a absoluta inutilidade. Como podia a natureza humana atingir o seu pleno potencial sem desafios e perigos? Quão aborrecidos e desprezíveis nos tornaríamos se não houvesse motivos para prestarmos atenção?”
“Uma pergunta para os pais: quer que os seus filhos se sintam seguros ou que sejam fortes?”
“Talvez o Céu seja algo que temos de construir, e a imortalidade algo que temos de merecer.”
“Os seres humanos têm uma enorme capacidade para fazer o mal. É um atributo singular neste mundo. Podemos piorar as coisas voluntariamente com total conhecimento do que estamos a fazer (tal como o podemos fazer acidentalmente, imprudentemente e de uma forma que é deliberadamente cega). Tendo em conta essa terrível capacidade, e a tendência para as ações malévolas, não é de estranhar que tenhamos dificuldade em tomar conta de nós, ou de outros – ou até que duvidemos do valor do enorme empreendimento que é a humanidade. E há muito tempo que, por boas razões, suspeitamos de nós mesmo. Há milhares de anos, na antiga Mesopotâmia, acreditava-se, por exemplo, que a humanidade era feita do sangue de Kingu, o monstro mais terrível que a grande Deusa do Caos produzira num dos seus momentos mais vingativos e destruidores. Depois de chegar a conclusões como esta, como não iríamos questionar o valor do Ser?”
“É fácil acreditar que as pessoas são arrogantes, egoístas e que só se preocupam consigo mesmas. O cinismo, que faz dessa opinião um truísmo universal, está disseminado e na moda. Mas tal postura perante o mundo não é uma característica de muitas pessoas. Essas têm o problema oposto: carregam fardos intoleráveis de repulsa por si mesmas, e desprezo e vergonha e autoconsciência. Dessa maneira, em vez de aumentar de forma narcisista a sua própria importância, não são capazes de se valorizar e não se cuidam com atenção e engenho. Parece que, muitas vezes, as pessoas não acreditam realmente que merecem os melhores cuidados. Estão cientes de uma forma dolorosa, dos seus defeitos e inadequações, reais e exagerados, têm vergonha e duvidas sobre o seu valor.”
“Se alguém tem a felicidade de desfrutar de um raro período de graça e saúde impecável, então, é provável que haja algum membro da família que atravesse uma crise. No entanto, as pessoas prevalecem e continuam a fazer tarefas difíceis, que exigem esforço, para se manterem unidas à família e à sociedade. Para mim isto é milagroso – tanto que uma gratidão espantosa é a única resposta apropriada. Há tantas maneiras para as coisas colapsarem, para que deixem de funcionar completamente – mas são sempre pessoas danificadas que mantêm tudo unido.”
“A humanidade, como um todo, e aqueles que a compõem merecem ser tratados com empatia, tendo em conta o assombroso fardo que o individuo carrega; empatia com os subjugados pela tirania assassina do Estado e as depredações da natureza… É a empatia que deve ser o medicamento apropriado para o desprezo que temos por nós – um desprezo que tem a sua justificação, ma sessa justificação é apenas metade da história. O ódio ao Ser e à humanidade devem ser mitigados com a gratidão pela tradição e pelas pessoas comuns que todos os dias conseguem coisas incríveis – já para não falar das façanhas daqueles verdadeiramente notáveis.”
“Todos merecemos respeito. Somos importantes para os outros tanto como somos para nós. Temos um papel vital a desempenhar no destino do mundo. Estamos, por isso, moralmente obrigados a tomar conta de nós. Devíamos ajudar-nos, ser bons connosco, tal como cuidaríamos e ajudaríamos e seríamos bons com alguém que amamos e valorizamos.”
“Precisamos de considerar o futuro e pensar “Como será a minha vida se cuidar de mim apropriadamente? Que carreira me desafiaria e faria de mim alguém produtivo, capaz de ajudar, de forma a que pudesse carregar a minha parte da carga, e desfrutar das consequências? O que devia estar a fazer, quando tenho alguma liberdade, a fim de melhorar a minha saúde, a expandir o meu conhecimento, e a fortalecer o meu corpo? Precisamos de saber onde estamos, para que possamos começar o caminho. Precisamos de saber quem somos, para que possamos perceber as nossas armas e tornar-nos mais fortes, tendo em conta as nossas limitações. Precisamos de saber para onde vamos, para que possamos limitar a extensão do caos na nossa vida, e restruturar a ordem, trazer a força divina da Esperança para lidar com o mundo.”
“Não subestimemos o poder da visão e da direção. Estas forças irresistíveis são capazes de transformar os obstáculos que parecem intransponíveis no caminho das oportunidades. É preciso fortalecer o individuo. Comece consigo. Tome conta de si. Defina quem é. Aprimore a sua personalidade. Escolha o seu destino em articulação com o seu Ser. Como assinalou brilhantemente o grande filosofo do seculo XIX, Friedrich Nietzsche: “Aquele cuja vida tem um “porquê” pode suportar qualquer “como”.”
Maio, 2020