Regra 6 – Ponha a sua casa em ordem antes de criticar o mundo


 “A vida é, de facto, muito difícil. Todos estamos destinados à dor e à destruição. Às vezes, o sofrimento é claramente o resultado de uma falha pessoal, uma cegueira voluntária, uma escolha malfeita ou um ato maldoso.”

“Se aqueles que sofrem desnecessariamente mudam o seu comportamento, então, as suas vidas devem evoluir de forma menos trágica. Mas o controlo humano é limitado. A vulnerabilidade ao desespero, à doença, ao envelhecimento e à morte é algo universal.”

“E não é apenas o sofrimento evidente que exige que culpemos alguém ou alfo pelo estado intolerável do nosso Ser. No auge da fama, influência e poder criativo, o imponente Lev Tolstoi começou a questionar o valor da existência humana,”

A angústia, seja psíquica, física ou intelectual, não precisa, de modo algum, de produzir o niilismo (isto é, uma rejeição radical do valor, do significado e do desejo). A angústia permite uma variedade de interpretações.” (Nietzche)

“O que quis dizer: as pessoas que experimentam o mal podem certamente desejar perpetuá-lo, levá-lo adiante. Mas também é possível aprender o bem experimentando o mal.”

“O desejo de vingança, por mais justificado que seja, impede o caminho para outros pensamentos produtivos. O poeta T. S. Eliot explicou isso mesmo na sua peça The Cocktail Party. Uma das personagens não está a divertir-se. Fala com um psiquiatra sobre a sua profunda infelicidade. Diz que só se pode culpar a si mesma por todo o sofrimento que sente. O psiquiatra fica surpreendido. Pergunta porquê. Ela pensou muito sobre isso, diz, e chegou à seguinte conclusão: se a culpa é sua, então, pode fazer algo a seu respeito. No entanto, se a culpa é de Deus – se a própria realidade é defeituosa, e está determinada em garantir a miséria - , então, a paciente está condenada. Ela não podia mudar a estrutura da realidade. Mas talvez pudesse mudar a sua própria vida.”

“Aleksandr Sljenítsin tinha todos os motivos para questionar a estrutura da existência quando foi enviado para um campo de trabalho soviético, a meio do terrível século XX, serviu como soldado nas mal preparadas linhas de frente russas durante a invasão nazi. Foi preso, espancado e posto na cadeia pelo seu próprio povo. Depois, teve um cancro. Podia ter ficado ressentido e amargo. A vida tornara-se miserável por causa de Estaline e de Hitler, dois dos piores tiranos da História. Viveu em condições brutais. Grandes períodos do seu precioso tempo foram roubados e desperdiçados. Testemunhou o sofrimento e a morte sem sentido, degradante, dos seus amigos e conhecidos. E contraiu uma doença extremamente grave. Soljenítsin tinha motivos para amaldiçoar Deus. Nem Jó teve um trabalho tão difícil.”

“Mas o grande escritor, o grande e vigoroso defensor da verdade, não permitiu que a sua mente fosse tomada pela vingança e pela destruição. Em vez disso, abriu os olhos. Durante todas essas provações, Soljenítsin encontrou pessoas que se comportavam nobremente, mesmo sob circunstâncias horríveis.”

“Então, fez a pergunta mais difícil: teria ele, pessoalmente, contribuído para a catástrofe da sua vida? Se sim, como? E lembrou-se do apoio inquestionável que dera ao Partido Comunista nos primeiros anos do Regime.”

“Desmontou-se, peça por peça, deixou morrer o desnecessário e o prejudicial, ressuscitou. Então, escreveu O Arquipélago Gulag, uma história sobre o sistema de campos de prisioneiros soviéticos. É um livro terrível e energético, escrito com a esmagadora força moral da verdade, sem panos quentes.”

“Porque um só homem decidiu mudar a sua vida, em vez de amaldiçoar o destino, todo o sistema patológico da tirania comunista foi abalado. Menos de duas décadas depois, o comunismo desmoronou completamente, e a coragem de Soljenítsin contribuiu para que tal acontecesse. Mas não foi o único a perceber esse milagre. Václav Havel, o autor perseguido que mais tarde se tornaria presidente da Checoslováquia, e depois da nova República Checa, é outro exemplo, assim como o é Mahatma Gandhi.”

 “A vida é assim. Construímos estruturas para viver. Construímos famílias, Estados e países. Identificamos os princípios sobre os quais essas estruturas são fundadas, e formulamos sistemas de crença.”

“Mas o sucesso faz-nos complacentes. Deixamos de prestar atenção. Achamos que tudo está garantido. Fechamos os olhos. Não percebemos que as coisas mudam e qua corrupção cria raízes. E tudo desmorona.”

“Um furacão é um ato de Deus. Mas a falta de preparação, quando a necessidade dessa preparação é bem conhecida, é pecado. É ficar aquém.”

“Os antigos judeus culpavam-se sempre quando as coisas colapsavam.”

“A alternativa é julgar a realidade como insuficiente, criticar o próprio Ser e mergulhar no ressentimento e no desejo de vingança. Sim, estamos a sofrer, mas essa é a norma. As pessoas são limitadas e a vida é trágica.”

 “Considere as suas circunstâncias. Comece com pouco. Aproveitou ao máximo as oportunidades que lhe foram oferecidas? Trabalha arduamente pata ter uma carreira, ou deixa que a amargura e o ressentimento o arrastem para o fundo? Já fez as pazes com o seu irmão? Trata o seu cônjuge e filhos com dignidade e respeito? Tem hábitos que estão a destruir a sua saúde e bem-estar? Assume realmente as suas responsabilidades? Já disse o que precisa de dizer aos seus amigos e familiares? Há algo que podia fazer, que sabe que podia fazer, e que tornariam as coisas melhores à sua volta?”

“Se a resposta é não, eis algo que pode tentar: pare de fazer o que sabe que está errado. Comece hoje.”

“O ser pode dizer-nos algo que não conseguimos explicar nem articular. Todas as pessoas são demasiado complexas para se conhecerem completamente, e todos temos algum tipo de sabedoria que não podemos compreender.”

“Pare de agir dessa maneira desprezível. Pare de dizer coisas que o enfraquecem e o envergonham. Diga apenas as coisas que o fortalecem. Faça apenas as coisas das quais pode falar com honra.”

“Use os seus próprios padrões de julgamento.”

“Depois de alguns meses e anos de esforço diligente, a sua vida irá tornar-se mais simples, menos complicada. O seu julgamento vai melhorar.”

“Talvez a sua alma não corrompida veja então a existência como um bem genuíno, como algo a celebrar. Apesar da nossa vulnerabilidade. Talvez se torne uma força cada vez mais poderosa a favor da paz e de tudo o que seja bom.”

“Então, talvez veja que, se todas as pessoas fizessem isso com as suas vidas, o mundo podia deixar de ser um lugar maligno. Depois, com um esforço contínuo, talvez até deixasse de ser um lugar trágico. Quem sabe como seria a existência se todos decidíssemos lutar pelo melhor?”


Maio, 2020

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